sexta-feira, 18 de maio de 2012

Conto de Adeus

Oi.
Desculpem-me, mas hoje não vou conseguir ser animada.
Lembram de meu cachorro, Nino?
Ele morreu.

Eu escrevi este texto de despedida para ele, que me acompanhava desde meus dois anos de idade e fez aniversário em Abril. Nunca soubemos o dia exato.

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Diamante Negro
Eu acho idiota quando as pessoas reclamam que a vida delas mudou em um instante. Para mim, que a vida pode mudar é um segundo é um fato que sempre foi óbvio. Afinal, leva apenas um segundo para um coração parar de bater.
-Frase feita por mim.

Essa noite eu tive um sonho estranho. Eu sonhei que eu irmão tinha morrido.
Foi bem bizarro. Era como se estivéssemos indo para uma espécie de funeral. Tinham fotos dele, e foi basicamente uma reunião da família e amigos para todos chorarem juntos.
Quando eu acordei, não estava me sentindo bem. Enjoada. Acabei faltando na escola e fui direto para a cama de novo. Acho que não sonhei mais nada.

Eu acordei de verdade meio dia e sete. Meu pai chegou quando eu ainda estava sentada e falou:
-Filha, eu tenho uma notícia triste para você.
Foi só olhar os olhos vermelhos dele que eu descobri.
-Acho que já sei.
E o abracei, os dois chorando. Minha mãe apenas nos olhava de braços cruzados, encostada na janela. Se minha vida fosse um anime, neste momento os olhos dela estariam na sombra do cabelo.

Eu já sabia a notícia. Apenas não queria ouvir em voz alta. Isso tornaria tudo real demais. E a realidade machuca.

Fomos para a clínica onde ele ficou e morreu noite passada. Engraçado, ontem quando eu cheguei em casa comecei a procurá-lo. Estranhei que não estivesse em seus colchões no escritório, dei uma olhada na sala e cheguei ao quarto dos meus pais. Acendi a luz e o encontrei vazio.
Por um momento, quase entrei em pânico. Quer dizer, onde ele estava? Foi quando lembrei a voz de meu pai no telefone, algumas horas mais cedo: “O Nino vai para a clínica, então não estará lá quando você chegar em casa, tá?”.
Não sei por que, mas senti um vazio muito grande naquela hora.

Nunca havia visto uma viagem de carro mais longa. Ou mais sofrida. Parecia que tudo o que eu via me lembrava dele. Tentei, a muito custo, manter meu escudo e meus olhos secos. Um completo desperdício.

Tentava me dizer que não havia problema. Afinal, ele estava velho. Sofrendo. Eu sabia disso desde domingo, que chegamos em casa e ele ficou lá, deitado. Não conseguia levantar, e ele havia vomitado. Acho que nunca senti tanto medo minha vida toda.
Lembro-me de correr para a cozinha, pegar a comida e lhe oferecer. “Ele não quer comer.”, minha mãe disse. Corri de volta, para pegar a água, e pensei com força: “Nino, você pode ir, mas não agora, não hoje!”.

Depois, na mesma noite, quando fazia carinho nele, lhe ‘abençoei’, por assim dizer.
-Nino, eu só queria que você soubesse que você pode ir. Se você quiser. Não pense em nós, não fique por nós. Fique por você, se você quiser. A escolha é sua. Mas só saiba que eu te amo.
Pensei isso. Não queria que meus pais soubessem que já estava me despedindo.

Ontem, quando cheguei da escola, ele estava deitado no colchão, todo coberto pelo cobertor. Peguei meu celular, sentei no chão ao seu lado e fiz carinho nele enquanto jogava um jogo qualquer. Ele ficava mexendo a cabeça para baixo da minha perna, para o lado. Demorou para eu perceber que seu olhar estava perdido. Não olhava para mim, olhava para o nada. Os olhos vazios.

-Nino? – perguntei.
Não houve reação.

Agora eu sei que quando cheguei em casa de noite, ele já tinha ido pelo menos uma hora antes. Entendi a definição de “Com sua partida, o céu perdeu uma estrela”.

Não consegui ver o corpo. Fiquei lendo gibis da Turma da Mônica enquanto meus pais entraram. Prefiro manter na mente a imagem dele vivo, não de seu recipiente sem vida.

Não acho que possa ficar em casa hoje. Em cada canto consigo vê-lo deitado. Tem uma foto dele no meu quarto. Achei sua bolinha no jardim. Ainda tem pelos dele pelo chão. Nós costumávamos brincar dizendo que com a quantidade de pelo que ele soltava, daria para fazer um poodle.

No caminho de volta para casa, minha mãe comentou que pessoas ricas pegam as cinzas de seus animais de estimação e as transformam em diamantes.

-Diamantes? – perguntei.
-E o que fazem com eles? – quis saber meu pai.
-Usam. Afinal, são diamantes.

Eu acho isso um pouco mórbido. Mas não pude deixar de imaginar um diamante feito de Nino. Negro, claro. Um diamante negro.


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E antes de eu ir eu só vou colocar umas fotos dele, para eu chorar um pouquinho mais e vocês verem como ele era lindo, tá?

Porque eu posso estar triste, mas que ele era realmente muito fofo ele era!




 


E agora me voy.

Bjus Bia, muito triste e esperando que realmente exista um céu para cachorros.

4 comentários:

  1. Lindo seu texto Mô!
    São sensacionais esses bichos né? São a mais perfeita tradução de amor, dedicação e doçura.
    São tão generosos que mesmo quando se vão, continuam a nos ensinar a como lidar com a vida e com a morte... e eles se entranham em nosso ser de onde nunca mais saem. São pra sempre.
    Alguém disse que a gente vem pra esta terra para aprender a amar, pra aprender tolerância e compreensão, por isso vivemos tanto. Os cachorros ja nascem sabendo tudo isso, por isso vão tão rápido!
    Beijão pra vc lindona

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  2. Ow queriiida... Sinta-se abraçada! Faço minhas as palavras do Arthur. Aprendemos muito mais com eles do que eles conosco, muito em vida e mais do que possamos imaginar sobre a morte, e do fato de que ambas são inseparavéis. Certamente o tempo dele entre nós foi muito feliz e onde ele estiver deve estar abanando o rabo, comendo para chuchú e correndo pelos os campos a latir! Te amo viu neguinha? Beijo grande.

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  3. tb vou sentir falta dele....merda, me deu vontade de chorar ao ler isso...SUA LIXO!!!;(

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  4. A última vez q o Nino me viu eu fui na sua casa e roubei bolinhos de arroz...q a impressão a Meg vai ter de mim quando o Nino falar isso pra ela...

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